Parece mentira. Mas aquela noite trágica para o futebol mundial NUNCA sairá da minha mente. Era por volta das 23h30 do dia 15/01/2009, eu estava na rua. Meu celular toca. Era um amigo que dizia: “Tenho que te contar algo grave, estás preparado?” Respondi: “Estou.” Ele retrucou: “Liguei o rádio agora e escutei que o ônibus que trazia a delegação do Brasil de Santa Cruz do Sul, acaba de se acidentar perto de Canguçu. Parece que há pelo menos 3 mortos”, disse. Por alguns segundos parecia pesadelo. Eu não queria acreditar. Pergunta pra um, pra outro e confirmava o pior, a tragédia. Liguei para outro amigo, e o mesmo também confirmou, dizendo ainda que estava se dirigindo imediatamente para o PS (Pronto Socorro) para fazer a vigília, o que de imediato tratei de fazer. Eram 00h30. Chegando lá já havia muitas famílias rubro-negras, desoladas, um olhava para o outro, sem saber o que fazer, o que falar, parecia algo sobrenatural. Em torno de meia hora depois, começam a chegar membros da Comissão Técnica – os primeiros a serem resgatados do local. A cena era forte. Torcedores não paravam de chegar, e com eles, o choro de uma apaixonada crença. Ambulâncias de todo o lugar, às vezes duas, três, chegando ao mesmo tempo. A cada um que chegava, a angústia. O medo. Choros e gritos. Confesso, olhava para aquilo tudo e perguntava: porque tudo isso? Porque com o Brasil? O pior estava por vir. O médico do clube, André Guerreiro, sai do corredor de entrada do PS, reúne familiares e a imprensa e dá a notícia que ninguém gostaria de escutar: “Milar, Régis e Giovani não resistiram.” Findava-se ali a vida de 3 guerreiros que se dedicaram de corpo e alma ao Xavante da João Pessoa. Parava ali o sonho de Cláudio Milar de um dia ser o Presidente do Grêmio Esportivo Brasil.
O dia seguinte:
O Bento Freitas não mais ecoava os gritos de guerra da fanática xavantada, nem mesmo a batida firme da sua charanga. O silêncio, ao menos desta vez, prevaleceu diante da NAÇÃO que calou o Flamengo de Zico. Autoridades de todos os lugares não paravam de chegar. A imprensa local, estadual, brasileira e mundial, a todo o momento entrava ao vivo do estádio dando notícias. No outro dia, coube à NAÇÃO Xavante enterrar seus guerreiros. O cemitério foi tomado pelo mar vermelho e preto. Foi algo inacreditável. Bandeiras, faixas e cartazes com o nome dos ídolos foram colocados lá. A todo momento a torcida do Brasil ecoava, dentre os túmulos, o grito que insistia em apertar suas gargantas. “Tu és time de tradição; raça, amor e paixão; rubrooooo neeegroooo”, entre palmas e lágrimas. Hoje faz 1 ano de tudo isso. O clube se reergueu, uniu forças, não parou de jogar e está firme e forte. Afinal, diria o velho e tradicional ditado gaúcho: “Não tá morto quem peleia.” Tudo isso, os fez ainda mais fortes e mostrou pra quem quiser ver, que o Brasil é muito maior que tudo isso, que sua mística é imortal e que sua torcida é inigualável. “Avante com todo o esquadrão”, diz seu hino. É pra frente que se anda xavantada!!!
Matéria: Felipe Macedo.
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